sábado, 21 de agosto de 2010

TEMA DA VEZ

A sessão "TEMA DA VEZ", na segunda edição, não foi escrita por mim, Letícia Gonçalves. Achei um texto muito interessante, sobre um assunto bastante discutido principalmente devido ao "CASO RAFAEL", filho de Cissa Guimarães. O texto (com a indicação da sua fonte) segue abaixo:



Comando da PM: desvio de conduta é o maior problema

Texto de Jorge Antonio Barros, responsável pelo blog “repórter de crime”, colunista do site www.oglobo.globo.com

O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio, afirmou em entrevista a Maria Inez Magalhães, do jornal "O Dia", que o maior problema da corporação hoje "é o desvio de conduta". Disse o chefe da Polícia Militar: “O policial trabalha tão próximo do crime que muitas vezes agrega os valores do criminoso. Criamos um filme e uma peça com policiais que foram expulsos por desvio de conduta. Eles serão apresentados nos quartéis. O policial também precisa ser tratado. Tem que cobrar, mas dizer da sua importância para a sociedade. Por mais que você prepare o homem, você não tira os impulsos dele. Ele não é um robô. A gente expulsa, prende e mesmo assim isso acontece”.
A maioria dos soldados é afastada por problemas psiquiátricos, muitos adquiridos durante o serviço. Por isso, estamos aumentando o quadro de psicólogos e os PMs serão submetidos a testes constantes. Um outro compromisso é modernizar a corregedoria. Em 60 dias, ela vai para o antigo Laboratório Industrial Farmacêutico em São Gonçalo. Lá vão funcionar comissões disciplinares que não ficarão mais nos batalhões. É preciso mais independência na hora do julgamento.
Não esperava menos do comandante-geral da PM, que sempre me passou a imagem de um homem íntegro e comprometido com a ética. Mas reconhecer que o desvio de conduta é o maior problema da PM do Rio hoje não deixa de ser um avanço. Ao admitir que o tema corrupção está na ordem do dia, o comando da PM pode estar quebrando um tabu na corporação. Um comandante meter o dedo na ferida, enquanto ela sangra.
Obviamente que a declaração do comandante está contextualizada pelo péssimo momento que vive a Polícia Militar, na questão ética. Se a corporação está à frente de um projeto operacional bem-sucedido, que é a pacificação de favelas antes dominadas por grupos armados, por outro lado demonstra fragilidade quando vêm à tona histórias tenebrosas como a de Rafael Bussambra, que atropelou e matou Rafael Mascarenhas, mas acabou sendo liberado mediante o pagamento de R$ 1 mil a uma dupla de policiais do 23o BPM.
O caso de corrupção não atenua em nada o atropelamento, apenas agrava uma situação do cotidiano. Se policiais estão vendendo impunidade, como ficou comprovado neste caso, podemos estar diante do pior dos gargalos da Justiça: o da cumplicidade entre criminosos e a polícia.
A situação se agrava quando ficamos sabendo que muito provavelmente houve falhas do oficial responsável pela supervisão da dupla de achacadores. Aí o chefe da seção de operações do batalhão também deve satisfações, assim como o comandante da unidade, de quem ainda não ouvi qualquer comentário sobre o episódio. O único que bota a cara a tapa é o comandante Mário Sérgio. Sobre a declaração dele, discordo de trabalhar próximo do crime se agrega valores do criminoso.
A falta de valores, a impunidade, a tolerância da sociedade com o crime e os pequenos delitos podem ser os fatores que levam PMs a romper a linha que os separa dos fora-da-lei. Essa linha só é tênue para quem não fortalece dentro de si valores anticrime e antiviolência. Já reparou que os policiais mais violentos e operacionais são aqueles que acabam se corrompendo? Eles justificam sua queda na falta de reconhecimento social e de seus superiores.
As polícias do Rio necessitam urgentemente de um programa preventivo contra a corrupção policial. Embora apareçam com mais facilidade os casos envolvendo PMs, não há dúvida de que a corrupção é grande também na Polícia Civil, onde as negociatas são feitas dentro das delegacias, sem câmeras nem testemunhas.
Um programa preventivo desses se faz com muita conversa e diálogo com a sociedade. É preciso incrementar os conselhos comunitários de segurança e colocá-los dentro desse debate. É a hora de se criar um disque-denúncia interno, pelo qual o policial honesto poderá se manifestar sem medo de seus pares envolvidos com corrupção e violência.
É preciso que haja coragem de oficiais para que o tema corrupção seja discutido sem medo nos quartéis. Esse processo de catarse pode ainda salvar muitos policiais e contribuir para a revisão de valores da própria sociedade, que também é a matriz da polícia que está aí. Se o Estado e a polícia não comprometerem a sociedade nesse processo, acreditem, vai ser muito difícil mudar alguma coisa.

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